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segunda-feira, 19 de março de 2012




O Brasil vive, ainda hoje, o dilema da elite envergonhada. Enquanto o povo canta, talha, pinta e borda, “o Brazil não conhece o Brasil”. Têm-se o direito de indagar aos outros porque esperam de nós somente o exótico e o folclórico têm então o dever de indagar-nos como devemos participar desse universo rarefeito da arte ocidental contemporânea.
A arte popular na moda, por sua ousadia, variedade e identificação nacional deve constituir um terreno cada vez mais necessário às pesquisas e à produção do artista brasileiro contemporâneo. Num mundo onde as injustiças são cada vez maiores, onde o desrespeito à natureza é imposto por um sistema regido pela desigualdade, onde a ausência ideológica abre espaços para que o poder seja exercido sem censura ética, onde convivem a destruição, a fome, as doenças endêmicas, o stress e os perigos nucleares, a estratégia da “arte pura” é um refúgio, um ato conservador.

 
Pela moda a arte popular jamais abdicará de seus compromissos com o contexto social e suas tradições culturais. Na natureza fortalece essa coragem que a faz resistir, que a faz sobreviver. Todo artista traz em si um vírus do inconformismo; é isso que lhe dá forças para dizer não às obviedades do poder. Sem essa coragem, a vida não teria sentido: com ela, renasce a esperança para trilhar os caminhos no vasto universo do artesanato e da moda.


Fotos Márcio Prado
Modelos Camila Ribeiro e Elder Lima